sábado, 7 de abril de 2012

O Mendigo



O maltrapilho, jogado num canto de rua com sua pobreza, é ,para quem sabe ver, o tipo de pessoa mais bem sucedida que nossa civilização pode produzir. Pois,se a ´´ bem-sucessão ´´ de um individuo é medida no quanto ele exerce sua função social,quem pode competir com o pobre total? Quando um pai, passando pela rua com seu filho, passa pelo homem sem (querer) olhar, o garoto irá perguntar e ele responder?



´´-Papito, o que teve com o velho?``



´´ Não é velho, filho. É um miserável.Estude para não acabar assim.``

E,graças ao feliz portador de demanda inefetiva, 98% dos garotos realmente o fazem. Quantos professores hoje em dia podem se gabar de tamanho rendimento pedagógico? Policiais deixam o bad guy escapar, cirurgiões esquecem bipes dentro de pacientes, políticos constroem estádios de futebol menores que prometeram, e 100% desses 98% não são o que sonharam.

Qual ociocrata, carregando sua garrafa de remédio que não amarga com o zelo que um vigia porta sua lanterna, jamais atrasou para o serviço, falhou ou fez corpo mole? Vivendo diligentemente do que sobra em nossas mesas, carteiras e sonhos, jamais deixaram, por suborno ou adulação, de voltar ao seu trabalho.

Amam sinceramente seu gatos e cachorros porque talvez um dia tenha que assá-los,e jamais se acham insubstituíveis. Que mendigo jamais se impôs como modelo para alguém, querendo que seguissem os seus passos?

´´-Nós estava com tesão, num deu pra segurar, né?´´

,disse um deles, pego em pleno ato com a esposa, no meio de um parque público lotado. Nossos viadutos, que antes só serviam para o Alto Comércio compartilhar seu CO2 com o resto da cidade, e para homenagear intelectuais que ninguém sabe o que produziram, graças ao inútil, receberam utilidade. Qual engenheiro lembrou-se de agradecê-lo ?

Suas mulheres geram,  industrialmente, um filho a cada nove meses para que possamos ter orgulho de nossas vidas estáveis e para aparecerem em reportagens com rostos desfocados ao lado de luzes pequenas. Já temos um enorme superávit de jornalistas e assistentes sociais.

 Sem essas crianças,teríamos de exportar a produção para Portugal e Angola, junto com nossas novelas e revistas semanais. Quantas centenas de sociólogos e sociologistas perderiam suas aparições ocasionais na TV, nos especiais sobre a Miséria? Eles teriam de procurar outros problemas para passar a vida pesquisando. Executivos não seriam mais tão atraentes.

Funcionários públicos perderiam seu charme. Todos dizem de seus pirralhos:´´-Vai ser o Einstein dos plásticos!`` ´´ Beijará todas as meninas!!``´´ O futuro Morgan verdamarelo ``. O meu, não. Vai ser o pedinte das mulheres, cego cantador da Ciência, homeless do Poder, Zeus disfarçado da Arte. Por isso tudo, acho errado, apontar para as crianças, na rua, qualquer exemplo de pessoa derrubada ou fracassada.

O farei, no futuro, por ser necessário para formar seu caráter como cidadãs, e membros úteis de nossa Sociedade. E querendo alguma seguir carreira nesse Quarto Setor que envolve também homens que vivem do trabalho da mulher, ladrões que roubam coisas de mil reais e revendem por vinte, pessoas que vivem com a mãe aos 50 anos e outras profissões não tão honradas quanto a de esmoleiro, eu direi a elas: ´´-Sinto desapontar,filho.Acho que você só dá para deputado.``

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