Sou coagido a voltar à minha vida simples que ficara imêmore na riqueza da infância pela qual, ligeiramente, um dia passei: as viagens ao sítio de meu pai, onde a minha mãe sempre tinha explicações lendárias para o funcionamento da Natureza.
O meu olhar era lendário. Mas esse tempo se foi e, por conseguinte, com ele também se foi o meu olhar, o meu olhar lendário, o original, o mais verdadeira. Tal olhar me permitia enxergar nos acontecimentos simples o porquê das coisas.
Por Djalma Andrade
Às vezes isso não era bom; pois, quase sempre, me suscitava uma espécie de desconforto, em outras palavras, era intrigante, talvez não quanto à cigarra . Ela me intrigava de verdade. O som produzido por seu canto era estridente e sem intervalo.
Era um acanto chato que perdurava o dia. Certa vez eu perguntei a minha mãe por que a cigarra não parava de cantar. Ela me disse que as cigarras não podem parar de cantar, cantam até explodir. Isso me intrigou mais ainda, bem mais do que o canto chato da cigarra.
E a cigarra continua a me intrigar; pois, apesar de o seu canto ser estridente, ela não o escuta: as cigarras se protegem contra o volume intenso de seu próprio canto.
E a cigarra continua a me intrigar; pois, apesar de o seu canto ser estridente, ela não o escuta: as cigarras se protegem contra o volume intenso de seu próprio canto.
Tanto o macho como a fêmea dessa espécie de insetos possuem um par de grandes membranas que funcionam como orelhas. Elas são os tímpanos, conectados ao órgão auditivo por um pequeno tendão que reage ao insistente e chato canto, que só serve para os outros.
Um chato quando abre a boca é chato. Todos têm que ouvir o barulho estridente de sua voz. Ele é o mais inteligente, é o mais bonito. A sua feiúra aparece apenas na chatice de que todos fogem, mas ele não a percebe, pois não consegue escutar o que diz.
Um chato quando abre a boca é chato. Todos têm que ouvir o barulho estridente de sua voz. Ele é o mais inteligente, é o mais bonito. A sua feiúra aparece apenas na chatice de que todos fogem, mas ele não a percebe, pois não consegue escutar o que diz.
Ele não para de falar e nem pode parar de falar, tem um ego a inflar... inflar até explodir. Por mais brilhante que seja um caso, quando contado por um chato perde o brilho, dá sono, pois o chato se protege do encanto de suas histórias, ele é o próprio encanto.
O chato não encanta nem tem encanto, tem a “verdade”, é arrogante. A arrogância está intimamente ligada à vaidade. A palavra “vaidade” vem do latim “vanus”, que quer dizer “vão”, o vazio, o sem conteúdo. Assim é o chato.
O chato não encanta nem tem encanto, tem a “verdade”, é arrogante. A arrogância está intimamente ligada à vaidade. A palavra “vaidade” vem do latim “vanus”, que quer dizer “vão”, o vazio, o sem conteúdo. Assim é o chato.
Por Djalma Andrade