terça-feira, 19 de agosto de 2014

#Memexes




''Composição construída a partir de anúncios do artista Elenildo Café. A obra busca ser uma descrição da circulação do conteúdo no espaço virtual: eles são visualizados de forma inteira e completa por quem os manda e por quem os recebe, mas circulam de forma fragmentada e descomposta no interior das próprias máquinas nos quais são criados. Na rede, são compartilhados a partir de formatos instrumentais que dizem como a máquina do receptor deve recompor esses fragmentos para poder processá-los de forma assemelhada ao conteúdo original, porém não mais de forma realmente igual, pois mesmo a cópia perfeita de um conteúdo já se modifica por se misturar e receber instruções de trânsito em outros locais e conteúdos.

Isso forma uma dinâmica que ao mesmo tempo, é estática: os significados estão apenas formalmente ligados a lugares específicos(os sites, arquivos, domínios, listas e outras tipos de endereços) mas na prática estão cada vez mais dispersos entre vários fluxos que se unem para reformá-los a depender das chamadas e pedidos. Surge com isso uma insólita situação, que abre espaço para uma reflexão filosófica: o rio eternamente mutável descrito por Heráclito , se interpretado como um moto-perpétuo de eficiência quase perfeita, não é rio nem tampouco mutável, mas sim uma grande gota cósmica que redireciona a própria energia de volta para si mesma, como um Ouroboros que devolve para o vácuo apenas uma ínfima parte da energia que recebeu no começo, se por acaso houve algum. 
Dessa maneira, o virtual confrontaria o real, porque, se o real move tamanha energia tão somente para devolver um empréstimo que a causa inicial não tem condições de receber totalmente de volta, no virtual essa questão se inverte, porque nele se despende tanta energia tanto para mover conteúdos como não-conteúdos. Tudo e nada se movem igualmente mesmo quando conteúdos ainda relevantes concentram atenção dos criadores-receptores antes de se tornarem, eles também, não-conteúdo residual. Parecendo tender assim, ao moto-perpétuo perfeito, o virtual poderia subsumir o real antes que o credor universal termine de ser pago: a ampulheta que é o tempo desse Cosmo acabaria substituída por um cronômetro digital atualizado com base na sensação de horário mais aceita pela média do público.''   Nicolas Oliver. 


Legenda da Obra.

Dedicatória.