sexta-feira, 29 de agosto de 2014

O Candidato- Conto


O Pereira se lançara candidato a pedido do pessoal do partido. Chegou em casa, após a convenção, e a esposa, amiga da mulher do deputado, já sabia de tudo antes dele contar.


 -Pereira, você não está com esperança de ganhar mesmo, está Pereira?

Ela dizia isso devido à ingenuidade do marido, um homem que seria perfeito se não fosse à mania de andar em convenções e dar o dinheiro que sobrava em casa para o partido, ao invés de beber cerveja com os amigos como os homens normais faziam.

-Eu sei perfeitamente que não tenho chance, Juju. O que interessa é a Idéia!

-Claro, Pereira, e pra demonstrar a ideia você vai fazer voar o dinheiro do home theather!

-Deixa de ser besta, Juju. Não é pra espalhar idéia dos outros, e sim por causa de uma Ideia que eu tive.

Juju tremeu, achando que a doidice inofensiva do marido tivesse degenerado em loucura fundacionista.


-Não é o que você pensa amor. Me diga uma coisa, e seja sincera: eu tenho cara de besta, não tenho?

Juju não pode negar.



 -Você tem mesmo Pereira. Por isso te botam nessas coisas.

-Certo. Você lembra, que quando você me conheceu, eu tinha uma banda?


-É, Pereira.


-E só aceitou sair comigo, porque mesmo suas amigas aconselhando contra, eu tocava bem, não é mesmo?


 -Sim, Pereira, mas eu só casei com você por...



-Eu sei amor, minhas qualidades morais.


As qualidades morais de Pereira o fizeram ser enganado pela banda, que antes da turnê de lançamento vendeu as músicas, quase todas criadas por ele, para um grupo de axé sem avisá-lo. Continuou amigo dos colegas, mas nunca mais tocou nem compôs.

-Então, Juju, resolvi ressuscitar minha carreira musical. Através da política!


-PEREIRA!!!

-Eu sei que você me acha maluco, querida. Mas veja: Eu tenho cara de besta, e sou um candidato sem chance de um partido sempre falado na mídia, mesmo que mal. Eu compus um jingle para mim mesmo, que se pegar, já dá fama a meu nome, e eu não divido nada com banda nenhuma!

-Chega homem, você... está variando,não pensa no que diz!


 -Penso sim, amor, já pensei em tudo! Tenho um caderninho com jingles que eu cômpus que dá pra qualquer partido usar em qualquer ocasião, que pode ser eleição legislativa, executiva, festa de sindicato, simulação de greve ou feijoada de bairro, e aí quando começar a próxima eleição, a gente vai ter grana pra comprar até um cinema. Aliás, não, o shopping todo com o cinema dentro. EU PROMETO!!!


Quando Pereira terminou de falar, Juju viu que a cara de besta dele se desfizera, e ela o achou parecido com um daqueles executivos grisalhos que apareciam nas revistas com modelos trinta anos mais novas. 

Sentindo que estava certa em tê-lo eleito para marido, liberou não só a verba do home theater, como também a que ia investir numa franquia de pílulas de emagrecimento.



terça-feira, 19 de agosto de 2014

#Memexes




''Composição construída a partir de anúncios do artista Elenildo Café. A obra busca ser uma descrição da circulação do conteúdo no espaço virtual: eles são visualizados de forma inteira e completa por quem os manda e por quem os recebe, mas circulam de forma fragmentada e descomposta no interior das próprias máquinas nos quais são criados. Na rede, são compartilhados a partir de formatos instrumentais que dizem como a máquina do receptor deve recompor esses fragmentos para poder processá-los de forma assemelhada ao conteúdo original, porém não mais de forma realmente igual, pois mesmo a cópia perfeita de um conteúdo já se modifica por se misturar e receber instruções de trânsito em outros locais e conteúdos.

Isso forma uma dinâmica que ao mesmo tempo, é estática: os significados estão apenas formalmente ligados a lugares específicos(os sites, arquivos, domínios, listas e outras tipos de endereços) mas na prática estão cada vez mais dispersos entre vários fluxos que se unem para reformá-los a depender das chamadas e pedidos. Surge com isso uma insólita situação, que abre espaço para uma reflexão filosófica: o rio eternamente mutável descrito por Heráclito , se interpretado como um moto-perpétuo de eficiência quase perfeita, não é rio nem tampouco mutável, mas sim uma grande gota cósmica que redireciona a própria energia de volta para si mesma, como um Ouroboros que devolve para o vácuo apenas uma ínfima parte da energia que recebeu no começo, se por acaso houve algum. 
Dessa maneira, o virtual confrontaria o real, porque, se o real move tamanha energia tão somente para devolver um empréstimo que a causa inicial não tem condições de receber totalmente de volta, no virtual essa questão se inverte, porque nele se despende tanta energia tanto para mover conteúdos como não-conteúdos. Tudo e nada se movem igualmente mesmo quando conteúdos ainda relevantes concentram atenção dos criadores-receptores antes de se tornarem, eles também, não-conteúdo residual. Parecendo tender assim, ao moto-perpétuo perfeito, o virtual poderia subsumir o real antes que o credor universal termine de ser pago: a ampulheta que é o tempo desse Cosmo acabaria substituída por um cronômetro digital atualizado com base na sensação de horário mais aceita pela média do público.''   Nicolas Oliver. 


Legenda da Obra.

Dedicatória.

                                                            

quarta-feira, 2 de abril de 2014

quarta-feira, 19 de março de 2014

Tradução: O Olho do Sapo

Traduzido e adapatado do livro traduzido anteriormente, páginas 62 e 63;

O Olho do Sapo
''Em 1959, com o objetivo de construir olhos biônicos, os cientistas do MIT Warren McCulloch, Humberto R. Maturana, e Walter H. Pitts, liderados pelo neurofisiologista Jerome Y. Lettvin, realizaram uma pesquisa sobre a visão do sapo e registraram suas descobertas no célebre ''What the Frog´s Eye Tells the Frog.''Os cientistas estudaram uma pequena parte do olho do olho do sapo e os sinais que eram enviados dos nervos para o cérebro. Objetos de variados formatos foram movidos na frente dos olhos do sapo para que suas reações pudessem ser medidas. Uma coisa muito notável pôde ser percebida. Se o borda plana de um objeto muito longo e fino fosse posta em frente ao olho, nenhum sinal era mandado ao cerebro. 

O sapo não o via. Mas se o mesmo objeto era posto em frente ao olho com uma dos cantos vindo primeiro, ao invés de uma borda direta, então havia uma reação e sinais eram enviados. Após experimentarem com objetos planos redondos de vários tamanhos, os homens perceberam que não havia reação quando o objeto era muito pequeno ou muito grande. Porém quando um objeto circular, percebido pelo sapo como uma mosca a distância de captura, aparecia, as células nervosas emitiam fortes sinais.

Em outras palavras, o olho do sapo possui um ''inseto-radar'' embutido que comunica quando possíveis presas estão próximas. Lettvin e seus colegas descobriram que aquilo que o sapo percebe de nosso mundo é muito limitado. Ele não vê- ou ao menos não se importa com- objetos que não são de certo formato ou tamanho. O resto do mundo não existe para o sapo, ou antes, nenhum sinal do mesmo lhe é mandado pelas células nervosas do olho. Alguém poderia apenas imaginar se os humanos possuem  limitações de semelhantes.''

sexta-feira, 7 de março de 2014

Tradução- Man, Memory, and Machines

Do livro ''Man, Memory, and Machines'', de Corinne Jacker. Ladder Edition, adaptada por Eloise Engle para o nível de 3000 palavras. Copyright 1964, por Corinne Jacker. Impresso nos EUA em 1973.

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'' One of the early scientists and philosophers who saw the future of bionics was the French philosopher René Descartes(1596-1650). In 1637 he published his Discourse on Method, and in the Part Five offers a discussion of the nervous system and the senses, and how the body reacts to an object that is presented to the senses. 


Descartes observed that this would hardly seem strange seem strange to those who know how many movements can be produced by machines. In comparison with the large number of bones, muscles, nerves and other living parts of each animal, he said, machines use very few parts.

Descartes continued by saying that if there were any machines that had the organs and appearance of some unreasoning animal, we would have no way of telling that it was not of the same nature as an animal. But if there were a machine that had such a resemblance to our bodies and imitated our actions as far as is morally possible, there would always be two absolutely certain methods of recognizing that it was still not truly a man. 

The first is that it could never use words or other signs for the purpose of communicating its thoughts to others, as we do. Is is indeed possible that a machine could be made that would utter worlds. But it could never change its phrases to reply to the sense of whatever was said in its presence, as even the most stupid man can do. The second method of recognition according to Descartes is that, although such machines could do many things as well as, or perhaps even better than, men, they would fail in certain other, by which we would discover that they did not act by understanding or reason, but only by the use of their organs.''
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Um dos primeiros cientistas e filósofos que viram o futuro da Biônica foi o francês René Descartes(1596-1650). Em 1637 ele publicou seu Discurso do Método, e na Parte Cinco ofereceu um debate sobre o sistema nervoso e os sentidos, e como o corpo reagia a um objeto apresentado aos sentidos. 

Descartes observou que dificilmente pareceria estranho a aqueles que conhecessem quantos movimentos podem ser realizados pelas máquinas. Em comparação com o alto número de ossos, músculos, nervos e outras partes vitais de cada animal, ele dizia, as máquinas usavam muito poucas partes.

 Descartes continuou por dizer que se houvessem quaisquer máquinas que tivessem os órgãos e aparência 
de algum animal irracional, não teríamos qualquer meio de dizer que ela teria a mesma natureza de um animal. Mas se porém a máquina tivesse tal semelhança com nossos corpos e imitasse nossas ações tanto quanto fosse moralmente possível, então sempre haveria dois métodos absolutamente garantidos de reconhecer que ela não seria de fato um ser humano.

A primeira seria que ela jamais poderia usar palavras ou quaisquer sinais para o propósito de comunicar seus pensamentos a outros, como nós fazemos. É de fato possível que se pudesse criar uma máquina capaz de emitir palavras. Mas ela jamais poderia mudar suas frases de maneira a responder o que quer fosse dito em sua presença, como mesmo o mais estúpido homem pode fazer. O segundo método de reconhecimento de acordo com Descartes seria o de, apesar de tais máquinas poderem fazer muitas coisas tão bem ou até melhor que os humanos, elas poderiam falhar em certas outras, pelo que nós descobriríamos que elas não agiram de fato por entendimento ou razão, mas meramente pelo uso de seus órgãos.