sábado, 31 de março de 2012

Um Apartheid Silencioso

Deslocar-se em Salvador,atualmente,está cada vez mais caro.Os sucessivos aumentos no transporte,outorgados em ritmo semestral,fizeram o valor da passagem pular de R$ 0,80,em 2000,para os R$ 2,50 atuais,aumento de mais de 310 % em 11 anos.

O custo mensal de manter o transporte de uma criança,fazendo ido e volta para a escola,pagando inteira,era de R$ 32,enquanto que hoje,o mesmo custo,com meia passagem,é de R$ 50. Considerando-se que nem todas as crianças peguem apenas ida e volta,e sim três ou quatro passagens por dia,e que várias delas tem de pegar condução para atividades extra-escola,e temos um custo que pode chegar aos R$ 120.Aproximadamente 22% do atual salário mínimo,por uma criança.

Diante desses dados, pode se chegar a conclusão, que na nossa época, para se manter uma vida de classe média baixa,e ficar sempre devendo dois meses, ora para a empresa de água, ora para a de energia, uma família com filhos precisa ter rendimentos de classe média alta. Com o crescente do custo de vida, que sempre dá um jeito de manter os aumentos de salário a uma respeitável distância de quatro meses de atraso, ter filho na escola corre o risco de se tornar um privilégio, não só de fato, mas também em lei.

Pois,se além de pagar todas as contas, uma família padrão(2 a 5 mínimos de renda) ainda consegue fazer as crianças chegarem aonde estudam, por um valor equivalente a um bom kit de material escolar,e uma boa fração da mensalidade de uma escola privada,essa família só pode mesmo pertencer a algum tipo de nobreza,senão de sangue,porém moral.
Aquelas que tem mais de duas crianças,especialmente,terão de fazer um grande corte nos superflúos,e nos pequenos luxos e lazeres,que costumam ser pagos com o que sobra das contas.Literatura,cds,revistas,uma ou outra hortaliça orgânica,a ida mensal ao cinema com os amigos.Todas essas coisas,mesmo nas famílias em melhor situação,deixarão de ser feitas,ou serão feitas menos vezes.

O crescimento constante do custo de vida,carga ao qual o aumento do transporte é adicionada com toda a proteção jurídica,enquanto o próprio poder de compra dos cidadãos não goza de tais garantias,pode aprofundar ainda mais  a estratificação econômica que já existe na cidade,criando ainda mais divisões entre as pessoas,num municipio aonde as tensões sociais já são mantidas em banho-maria por programas de assistência e policiamento ostensivo.

Os novos empreendimentos de comércio,em aréas nobres ou futuramente nobres da cidade,só são acessíveis,para a maioria da população,atráves do transporte urbano.Com o custo diário do transporte ultrapassando o valor de uma meia-entrada de cinema,uma das coisas mais baratas que se pode consumir num shopping,e que são usados pela grande maioria das pessoas,especialmente os jovens,o efeito é que nos finais de semana,nem mesmo para o cinema,o fator mínimo de consumo,essas pessoas se sentirão mais atraídas a ir.

Irão procurar locais onde as sessões forem menos caras,procurarão alternativas mais baratas,ou nem mesmo farão nada-ficando em seus bairros,ou indo o menos longe deles possível.Ainda que essa não seja,por parte do Governo,uma ofensa ativa aos cidadãos,acaba sendo uma forma de discriminação passiva,pois gera um efeito equivalente ao do passaporte interno e dos serviços ‘’separados mas iguais’’,sem que se ponham placas anunciando a situação.

Assim,vários Direitos Constitucionais- o de ir e vir,o de ter acesso a Educação,ao Lazer e a Cultura-  são violados de uma única vez,sem que se esteja num estado de exceção-mas tornando exceções,porém,8 em cada 10 moradores da cidade,bastando que não tenham fontes de renda significativas além do salário,e precisem trabalhar ou estudar para viver.

Fontes : http://brasil.indymedia.org/media/2006/12//369490.pdf

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